"Eu ia te escrever qualquer dia, eu tinha — e tenho — um monte de coisas pra te
dizer, aquelas coisas que a gente cala quando está perto porque acha que
as vibrações do corpo bastam, ou por medo, não sei. Mas as coisas todas,
externointerno, eram muito difíceis e escuras, eu não tinha condições de mostrar
ou dar nada a ninguém que não fosse também escuro, compreende? Eu não queria, eu
não quero dar trevas, dor, medo, solidão — eu quero dar e ser luz, calor,
amparo (naquela cerimônia do chá em Sta. Teresa eu disse que queria ser
ombro, você disse que queria ser um ovo — será que um ovo pode se apoiar num
ombro sem quebrar?)."
(Caio Fernando Abreu, Porto Alegre, 21 de março de
1972 - Carta "A Vera Antoun")
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